[RESENHA] As Meninas Ocultas de Cabul
Oiii gente, hoje eu vim falar para vocês sobre o livro As Meninas Ocultas de Cabul - Em Busca de uma Resistência Secreta no Afeganistão, da autora Jenny Nordberg, que foi lançado em 2016 pela Editora Companhia das Letras. Bora saber um pouco mais sobre a obra?
Jenny Nordberg é uma repórter, que durante cinco anos concentrou suas pesquisas no Afeganistão, e o que ela encontrou por lá foi o seguinte: várias famílias afegãs vestem e criam suas filhas como meninos. Seja por status social (pois uma família com pelo menos um filho homem tem uma posição mais elevada perante a sociedade), seja por precisar de mais alguém para trabalhar e levar dinheiro para dentro de casa (já que lá as mulheres não podem trabalhar e a situação financeira de muitas famílias é péssima) ou por oferecer a mãe uma espécie de misticismo (visto que no Afeganistão acreditar em algo é mais importante do que qualquer outra coisa, até mais importanteque saber).
Essa prática é conhecida como Bacha Posh, que em uma tradução literal significa "vestido como menino", em dari, língua local do Afeganistão. E Jenny logo descobre que essa prática não é uma coisa nova e que os casos não são isolados, como ela pensou de início.
Entrando mais fundo nas camadas desta cultura, Nordberg começa a se deparar cada vez mais e mais com essas bacha posh e com as histórias das antigas meninas vestidas como meninos, mostrando a trajetória de cada uma delas e suas infindáveis lutas diárias como mulher em um país no qual não é favorável ser mulher.
Já comecei o livro com as expectativas lá no alto, pois me interesso bastante pelo Oriente Médio e estou sempre procurando saber mais sobre, e devo dizer que esse livro foi mil vezes mais do que eu já imaginava, porque a autora soube seguir um caminho e ir agregando informações, explicações e até proporcionando discussões sobre alguns assuntos com o leitor, já que ela estava sempre presente nas cenas e seus pensamentos eram sempre expostos, o que deixou a leitura bem interessante e fluida.
O livro começa com a Jenny contando sobre uma basha posh, Mehran, filha de Azita, uma mulher que está na política do Afeganistão representando o direito das mulheres. Azita só tem filhas mulheres, e como ter um filho homem ajudaria muito o status da família (que não era muito favorável, pois mulher trabalhando já quase nem existe lá, imagina na política) e garantiria a segurança das outras irmãs, ela decide vestir sua filha mais nova como menino.
O que é um cabelo curto ou longo, calça ou vestido, masculino ou feminino, se a renúncia das segundas opções citadas te dão acesso seguro ao mundo? Pois para estas mulheres, a situação não se trata apenas de gênero, mas sim, de liberdade, e entre o gênero e a liberdade, elas ficam com o que lhes é mais importante: a liberdade.
No decorrer do livro a autora mostra que essa prática no Afeganistão tem um nome, mas que essa coisa de se limitar como mulher e agir com mais masculinidade para conseguir se infiltrar em território masculino e ter mais respeito, é o que a maioria das mulheres, na maioria dos países, tem que passar todos os dias.
A autora também levanta muito a questão de "até onde a mente controla o corpo?", visto que várias bacha posh que passaram pela puberdade como menino e se adequaram bem ao sexo masculino tiveram um desenvolvimento biológico feminino retardado. E a situação não para por aqui, pois ela mostra como várias outras meninas tiveram muuuitas dificuldades para se adaptarem depois que voltaram a se vestir como mulheres, discutindo sobre toda a confusão psicológica que a prática pode levar a essas pessoas.
O livro começa com a Jenny contando sobre uma basha posh, Mehran, filha de Azita, uma mulher que está na política do Afeganistão representando o direito das mulheres. Azita só tem filhas mulheres, e como ter um filho homem ajudaria muito o status da família (que não era muito favorável, pois mulher trabalhando já quase nem existe lá, imagina na política) e garantiria a segurança das outras irmãs, ela decide vestir sua filha mais nova como menino.
O que é um cabelo curto ou longo, calça ou vestido, masculino ou feminino, se a renúncia das segundas opções citadas te dão acesso seguro ao mundo? Pois para estas mulheres, a situação não se trata apenas de gênero, mas sim, de liberdade, e entre o gênero e a liberdade, elas ficam com o que lhes é mais importante: a liberdade.
No decorrer do livro a autora mostra que essa prática no Afeganistão tem um nome, mas que essa coisa de se limitar como mulher e agir com mais masculinidade para conseguir se infiltrar em território masculino e ter mais respeito, é o que a maioria das mulheres, na maioria dos países, tem que passar todos os dias.
A autora também levanta muito a questão de "até onde a mente controla o corpo?", visto que várias bacha posh que passaram pela puberdade como menino e se adequaram bem ao sexo masculino tiveram um desenvolvimento biológico feminino retardado. E a situação não para por aqui, pois ela mostra como várias outras meninas tiveram muuuitas dificuldades para se adaptarem depois que voltaram a se vestir como mulheres, discutindo sobre toda a confusão psicológica que a prática pode levar a essas pessoas.
O Afeganistão é uma versão do patriarcado, em forma bruta, e ao reconhecermos esse sistema disfuncional, também começamos a perceber como nós às vezes perpetuamos uma cultura problemática, na qual homens e mulheres ficam presos a papéis de gênero tradicionais.
Em um país em tempos de guerra, fica difícil defender a ideia de que suas filhas devam frequentar a escola, mas é muito mais fácil defender a ideia de casamento, já que na visão deles, essa é a melhor ideia de segurança para suas filhas, e como mostra no livro, esses pais estão firmemente achando que estão fazendo o melhor que podem, e não necessariamente concordam com a ideia de que mulher lá não deva estudar.
E o que a autora aborda como fechamento é um conjunto de tudo isso. Não basta apenas que nós, ocidentais, façamos um discurso empoderador a essas mulheres do Oriente, pois uma mulher presa e violentada pelo marido em casa, achando que não é merecedora do ar que respira e não tendo garantia nenhuma dos seus direitos, não vai achar esse empoderamento uma coisa ótima.
E a Jenny coloca ainda que o discurso teria muito mais força se atingisse também os homens orientais, pois o que ela viu lá foi que todas as mulheres um pouco mais ambiciosas com suas vidas sempre tem um pai ou tio que tem ideias mais a frente da cultura em que estão inseridos. E esses pensamentos precisam ser cultivados, para que assim ocorra uma evolução, para que nenhuma menina precise mais se vestir como menino e para que a igualdade possa ser a alcançada.
A edição do livro está muito incrível, a foto de capa mostra um pouco do que você encontrará nas páginas. As folhas são amareladas e a diagramação é simples, não me lembro de ter encontrado algum erro de revisão.
Gente, esse é o tipo de livro que todos deveriam ler, pois traz muito conhecimento e faz com que a gente entenda e reflita sobre muitas coisas. Sério, leiam!!!
Título: As Meninas Ocultas de Cabul: em busca de uma resistência secreta no Afeganistão | Páginas: 385 | Autor(a): Jenny Nordberg
Tradutor(a): Denise Bottmann | Editora: Companhia das Letras | Ano: 2016
Marcadores: As Meninas Ocultas de Cabul, Editora Companhia das Letras, Jenny Nordberg, Relações de Gênero
9 Comentários:
Meu deus, ainda não tinha ouvido falar desse livro e sua resenha me deixou encantada! Eu também adoro assuntos do oriente médio e essa cultura de vestir as meninas como meninos é muito surreal, jamais imaginaria isso, eu preciso muito ler esse livro, já tô aqui na amazon adicionando ele na minha wishlist, socorro!!!
Olá, amei conhecer esse livro pela sua resenha. Eu já tinha ouvido falar nessa prática de vestir meninas como meninos, fiquei curiosa para ler essa obra, já que foi uma leitura que superou suas expectativas. Achei super interessante essa ideia de cultivar um pensamento para que possibilite a evolução.
petalasdeliberdade.blogspot.com
Olá! Tudo bem?
Devo dizer que não conhecia a obra e sobre a cultura, meu conhecimento é o mais básico e isso me fez querer ler o livro para mudar tal fato. Ótima resenha e fotos lindas!
Oie, eu não conhecia a obra e adorei acompanhar suas impressões. Eu realmente acredito que um dos caminhos é desconstruir essas ideias nos homens também, porque eles acabam propagando essa opressão que já vai até pro contexto cultural e social né? Dica anotada!
Olá
Essa é uma prática comum em diversos países do Oriente Médio que ainda vivem fortemente sob o sol do patriarcado e a insistência da sociedade machista em limitar até no tamanho dos pés das mulheres.
Existem documentários chocantes sobre algumas práticas femininas para burlar regras que deixam qualquer mulher chocada e com medo quando elas são descobertas e ainda dizem que não tem o que para se lutar.
Beijos
Que dica maravilhosa! Eu não conhecia o livro e gosto muito de obras como essa, então fiquei bem curiosa para ler, sei que é uma leitura que vai me impactar. Adorei a sua resenha.
vindo da Companhia das Letras acho dificil uma leitura desse tipo não me conquistar. Tbm adoro ler sobre a cultura do Oriente Médio e certamente essa obra vai me deixar impressionada... confesso que desconhecia essa prática lá... vou pesquisar mais a respeito... parabéns pela resenha...
bjs
Olá,
Já li alguns livros que se passam no oriente médio e todos foram muito difíceis, por conta de todo este machismo que acompanha aquele povo. Já vi alguma história sobre se vestir de homem, porém em outro país. O livro parece ser recheado de informações.
Debyh
Eu Insisto
Oi Mi, como está?
Eu nunca parei realmente para ler livros que se passam no Oriente Médio, mas já ouvi e li cada coisa de fazer agoniar o coração de tão pesada! Sim, essa prática foi uma dessas coisas e até agora me pergunto até quando essas mães, e porque não pais, terão de fazer isso. Será que realmente vale a pena pagar esse preço para experimentar essa tal liberdade? Isso é mesmo liberdade? Respostas difíceis de encontrar, mas creio que relatos como esses darão conta de fazer o mundo inteiro, especialmente essa parte do planeta, perceberem que quanto mais oprimir, pior vai ficar.
Abraços e beijos, Lady Trotsky...
http://osvampirosportenhos.blogspot.com
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