22 novembro 2020

[RESENHA] O JOGO PERFEITO #1

Oi gente, tudo bem? Então, hoje eu trouxe a resenha de O Jogo Perfeito da autora J. Sterling e publicado no Brasil pela Faro Editorial. Já aviso que essa resenha vai ficar longa, então tenham paciência. Espero que entendam meu ponto de vista, e, principalmente, tenham em mente que eu não estou atacando nem a autora e nem a editora. Eu só achei que deveria falar sobre todas as minhas impressões sobre a leitura. Sem mais delongas, vamos lá.

O livro conta a história de dois jovens universitários, Cassie Andrews & Jack Carter. Quando Cassie percebe o olhar sedutor e insistente de Jack, o astro do beisebol em ascensão, ela sente o perigo e decide manter distância dele e de sua atitude arrogante, principalmente após os avisos de sua melhor amiga Melissa. Mas Jack tem outras coisas em mente... Acostumado a ser disputado pelas mulheres, faz tudo para conseguir ao menos um encontro com Cass. Porém, todas as suas investidas são tratadas com frieza.

Ambos passaram por muitos desgostos, viviam prevenidos, cheios de desconfianças, antes de encontrar um ao outro, (e a si mesmos) nesta jornada afetiva que envolve amor e perdão. E criam uma conexão tão intensa que não vai apenas partir o seu coração, mas restaurá-lo, devolvendo inteiro novamente.

Antes de começar a falar sobre minhas impressões, preciso contar sobre minha jornada com o livro. Eu conheci a autora nas minhas andanças pelo Goodreads há anos, numa época em que nem se pensava no lançamento do livro por aqui. Eu queria muito ler o livro porque fiquei curioso com a história, mas só agora realmente consegui pegar ele. De ante mão digo que fiquei bem decepcionado com algumas coisas.

Mas vamos falar sobre os pontos positivos. A escrita da autora é bem fluída e ela soube muito bem encontrar a voz dos personagens. Ao longo do livro tudo é contado do ponto de vista da Cassie e do Jack, e em momento nenhum ficamos perdidos sem saber quem está narrando, justamente porque Sterling soube bem trabalhá-los. Com exceção de um personagem (falarei mais adiante), todos tem sua essência bem definida e é quase impossível não se apegar a algum deles (oi Dean).

Com essa narrativa fluída, a gente consegue ler o livro bem rapidinho, e as 222 páginas passam e a gente nem vê, principalmente porque há sempre alguma coisa acontecendo na vida desses personagens, seja algo alegre ou mais dramático, sendo esse segundo bem característico de romances do gênero “Novo Adulto”. A trabalho da editora também está bem feito. O projeto gráfico é simples, mas contribui para a leitura rápida e os revisores fizeram um ótimo trabalho.

Passando agora aos pontos que me incomodaram bastante, primeiro eu devo ressaltar que a gente tem muito machismo disfarçado em diversas atitudes de Jack. E tudo bem um personagem ser assim, não devemos esperar apenas por personalidades descontruídas, mas a questão é: o livro acaba Jack não melhora. Dean, seu irmão mais novo, vira e mexe faz questão de abrir seu olho em diversos momentos, mas de nada adianta, ele persiste em atitudes que às vezes é bem difícil de deixar passar. Pra mim é meio complicado alguém passar por uma jornada de transformação e realmente não melhorar.

Outra personagem que me incomodou foi Melissa. Ela é a primeira a dizer pra Cassie ficar longe de Jack porque ele é galinha e não leva nenhuma menina a sério. Ela pinta o terror. Mas poucas páginas depois ela parece querer empurrar a amiga pra cima dele apesar de tudo. Todas as atitudes dela com relação ao casal pecam na essência cuidadosa que ela tem com a amiga durante todo o livro. Ficou meio forçado acreditar que Melissa se importa tanto, mas não perde a chance de ver Cassie se dar mal nas mãos de Jack.

Outro ponto perpetuado em algumas páginas é a necessidade da mulher ser centro de reabilitação pra homem. Desde o início dos tempos observamos em filmes e outras obras que a mulher tem que ser compreensiva e sempre querer o bem estar do sexo oposto em primeiro lugar, mesmo depois dele a magoar profundamente. Isso acontece aqui. Como se Cassie não tivesse motivos pra não confiar no novo namorado, após um acontecimento ele vem com um discurso totalmente perturbador tentando virar o jogo, fazendo ela passar por louca, acarretando no fato dela ter que pedir desculpas por algo que ele causou. A visão que temos ao ler? Que isso é normal e natural. E mais uma vez, existem pessoas assim na vida real eu sei, isso tem que ser abordado na literatura, eu também sei, mas em momento algum houve uma tentativa de censurar essas atitudes ou mostrar que isso não é legal.

A próxima coisa que vou abordar pode ser um spoiler (não acho que seja), mas por via das dúvidas pule o próximo parágrafo.

Uma coisa que muitas vezes passa despercebido é que os acontecimentos na história têm que levar a algum lugar realmente importante para o enredo. Me incomoda bastante quando um autor usa algo pesado por usar. Por que estou falando isso? Tem uma cena em que Cassie é assaltada e o ladrão leva sua câmera e, além disso, AGRIDE a garota. Ele bate nela e ela fica com o rosto machucado. E sabem para que essa cena está no livro? Apenas para logo depois Jack mostrar como é alfa e um namorado espetacular por dar outra câmera pra namorada (já que ela é pobre e não tem dinheiro para comprar uma). É isso. A agressão não tem papel nenhuma na narrativa nem na história de Cassie.

Gente, sério, em pleno século XXI eu fico triste e me incomoda MUITO o uso de tal artifício apenas para o homem da história mostrar o quanto ele é importante na vida da mulher. Mulheres morreram ao longo da história apenas por serem mulheres (e tratadas como bruxas), elas continuam morrendo hoje pelo mesmo motivo e principalmente, porque muitos homens acham que podem fazer isso. Então não, eu não consigo achar legal nem aplaudir qualquer apologia a agressão gratuita (e não gratuita) contra uma mulher. Se mesmo após uma reflexão a cena fosse importante, que contivesse apenas o roubo, e nada mais.

É por tudo isso e até outras coisas que me incomodaram menos, que eu não consigo dar mais do que duas estrelas para o livro. De início a história é interessante, me pegou pela carga dramática e por abordar conflitos de confiança, mas não trouxe nada disso com a profundidade e o cuidado merecido. Se você não vê problema em nenhuma das coisas que abordei, provavelmente vai amar a leitura e rir bastante, porque há momentos de descontração.

Para encerrar, não estou dizendo que vocês não devam ler o livro. Sou muito a favor de cada pessoa ter a sua opinião sobre tudo, então se você ficou interessado leia e tire suas próprias conclusões. Por hoje é isso.

 

Título: O Jogo Perfeito | Série: O Jogo Perfeito #1 | Páginas: 222 | Autor(a): J. Sterling
Tradutor(a): Carlos Szlak | Editora: Faro Editorial | Ano:
2014

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