06 março 2019

[RESENHA] O Menino Dos Fantoches De Varsóvia



Oiii gente, hoje eu vou contar para vocês sobre O Menino Dos Fantoches De Varsóvia, lançado pela Editora Novo Conceito, da escritora Eva Weaver. Se quiser saber um pouco mais sobre a obra, continue lendo. 

Mika está levando seu neto Daniel, de 13 anos ao Museu de História Natural, e enquanto caminham pelas ruas ele avista na porta de um pequeno teatro um pôster em letras grossas: O Menino Dos Fantoches De Varsóvia - Um Espetáculo De Fantoches. Junto as letras, Mika vê o pôster adornado com um surrado casaco preto, que está com uma braçadeira com a estrela de Davi costurada na manga direita e vários fantoches. Ao vislumbrar isso, Mika sente o peito apertar, sua respiração fica pesada e de repente tudo fica escuro.

Após despertar no meio da rua e ter a ajuda de um estranho, Mika pede a Daniel que voltem para casa, pois ele tem algo para lhe contar. Assim que chegam em casa, ele retira do armário um pacote, e começa a contar para o neto a história de cada item ali guardado e a sua própria.

Quando tinha 12 anos, o avô de Mika o levou até um velho amigo, para que lhe confeccionasse um novo casaco. Seu avô, Tatus, como Mika o chamava, era professor de Matemática, e amava dizer que os números sempre ajudavam, porém, o 1 de Setembro de 1939 os fez entender que os números nem sempre davam a solução. Depois disso, tudo começou a mudar, lojas foram fechadas, bombardeios sem fim começaram, judeus foram proibidos de andar na calçada e frequentar escolas.

Logo, os alemães isolaram os judeus em um gueto, fechados para o resto mundo. Recusando-se a se acomodar com a situação, Tatus resolve intervir em uma briga entre soldados alemães e uma mulher, mas acaba morto. Assim, Mika herda o casaco do avô, e acaba descobrindo os vários bolsos escondidos do casaco, nos quais estão escondidos todo tipo de quinquilharia e também alguns fantoches.

Com a descoberta do mundo secreto do avô, Mika logo se vê encantado, e da continuidade as criações. Quando ele percebe, está fazendo teatros com os fantoches para alegrar seu primo, e logo começa a fazer também para vizinhos, e assim que a notícia dos fantoches se espalha, começa a ser chamado para quaisquer festas de aniversário e pequenas reuniões. O gueto todo só fala sobre o menino dos fantoches, até que Mika esbarra em um soldado alemão, e é levado por ele para um caminho incerto.

O livro é dividido em três partes, primeiro A História de Mika, depois A Jornada Do Príncipe (que conta a história do fantoche preferido de Mika, junto ao soldado que ele conheceu, Max) e Voltando Para Casa (que descreve o encontro entre os netos do Mika e do Max) Os primeiros dois lados do livro vão da Varsóvia a Sibéria. Duas histórias que se entrelaçam através de gerações.

Depois da morte do avô, Mika descobre uma pequena oficina na despensa de casa, que está cheia de fantoches prontos e alguns inacabados. Ele começa a passar cada vez mais tempo lá dentro, até que a atenção de Ellie, uma prima que foi morar com ele e sua mãe, é despertada. Então ele resolve compartilhar seu segredo com ela, e a garota começa a ajudar no roteiro dos teatros e nas apresentações.

Durante as suas saídas de casa para comparecer as festas que é chamado, Mika observa toda a miséria e tristeza do gueto, tudo tem uma camada de cinza. As descrições das situações e lugares são muito realistas, e doem no fundo da alma, e nesses momentos, confesso que eu chorei rios de lágrimas e senti meu coração se despedaçar.

Mika também faz uma anotação mental sobre as grandes diferenças que existiam dentro do gueto, mesmo que todos fossem a "ralé" da sociedade e tivessem que usar braçadeiras com a estrela de Davi e suas carteiras de identidade fossem identificadas com um J, aqueles que ainda tinham dinheiro, tinham muitos privilégios. Por vezes podiam comprar no mercado negro, tinham roupas boas, moravam nas melhores casas, e o mais importante de tudo, suas refeições não se limitavam a meia fatia de pão que os demais recebiam. A parte bonita do livro dentro do gueto é quando as pessoas começam a cultivar jardins, tanto de legumes quanto de flores, como forma de resistência.


Quando Mika se encontra com Max, o alemão o leva para o quartel, e o obriga a apresentar seus teatros de fantoches todas as semanas para os outros soldados. Ainda que se sinta um traidor, Mika continua aparecendo ao quartel, e uma "amizade" começa a surgir entre ele e Max, e o soldado começa a lhe dar grandes porções de comida e a lhe arranjar remédios.

Porém chega um momento em que o Max precisa seguir um caminho diferente, e o garoto da ao soldado um fantoche, o príncipe, e depois disso eles não se veem mais. Depois que a guerra acaba, os que serviram no exercito de Hitler são mandados para a Sibéria pelos soviéticos, e ao longo dos anos, a única companhia de Max é seu velho fantoche, que ele usa para fazer teatros aos seus amigos de cela, e para ter as conversas e reflexões mais relevantes. 

É uma obra bem complicada de ler, não pela escrita, mas pela carga emocional, várias vezes eu tive que fechar o livro para refletir sobre o que tinha acabado de ler, ou simplesmente por estar tão angustiada com a situação que não conseguia continuar a leitura imediatamente. Porém, eu fiquei até de madrugada lendo, querendo saber o desfecho. E quando deitei para dormir, cadê o sono?!
Fiquei várias horas pensando sobre tudo o que tinha lido. E pensar no quão real foi, deixa tudo pior ainda.

O livro tem uma parte romântica, do Mika e da Ellie, mas a ênfase do livro não é o amor dos dois, o que achei bom no começo, pois vários outros temas foram amplamente abordados, mas logo me vi torcendo pelos dois, e o desfecho deles me fez ficar super triste.

A trama mostra como poucas pessoas tiveram realmente culpa pelo o que aconteceu, muitas acabaram sofrendo uma lavagem cerebral do nacionalismo, e muitas outras nem sequer sabiam o que estava ocorrendo de fato. Quando o Max vai para a Sibéria e começa a pensar em tudo o que aconteceu durante a guerra, entendemos bem esse lado.

Amei a autora por ter relacionado a arte em meio ao caos, pois foi a arte que salvou nossos personagens, tanto o Mika quanto o Max. Salvou a pele e a alma, e eu realmente achei incrível.

A arte da capa é maravilhosa, e transmite já de cara o enredo do livro, a diagramação é simples e as folhas são amareladas. A escrita é rica e impressionante, te carrega para dentro das páginas e faz você se sentir conectado com os personagens. E no final do livro, ainda contamos com O Livro Dos Heróis De Mika, que é uma coletânea de nomes e uma rápida descrição de pessoas que foram verdadeiras heroínas durante o Holocausto.

Apesar de triste, é uma leitura incrível e super relevante, e mesmo que te faça suar bastante pelos olhos, eu recomendo muito.








Título: O Menino Dos Fantoches De Varsóvia  Páginas: 398Autora: Eva Weaver

        Tradutor: Ivar Panazzolo Júnior  | Editora: Novo Conceito | Ano: 2013





                                    

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6 Comentários:

Às 19 de abril de 2019 às 00:32 , Blogger Carolina Trigo disse...

Oi, Mi!
Eu já tinha visto esse livro em algum lugar, mas ainda não tinha lido a sinopse dele para saber do que se tratava. Pelo título, já dá para imaginar que se trata de algo sobre a Segunda Guerra Mundial, mas não como a autora trabalhava ela.
Não sei se leria agora, pois li tantos livros sobre o assunto que me cansei um pouco. Ficou muito pesado. Mas achei interessante como ela trabalhou a questão da arte e principalmente a questão do soldado alemão.
Bjss

http://umolhardeestrangeiro.blogspot.com/

 
Às 19 de abril de 2019 às 22:28 , Blogger D e s s a disse...

Tem livros que nos deixam pensando por horas mesmo, né? É incrível o quanto nos tocam dessa forma. E saber que essa é uma leitura do tipo me deixa empolgada, e temerosa, para ler a obra.
beijos

 
Às 22 de abril de 2019 às 15:00 , Blogger Greice Blogando Livros disse...

Este livro para mim é um dos melhores sobre a Guerra. Eu não sabia muito sobre Varsóvia e basicamente aprendi tudo nele. Um horror total. Quanta maldade né? Mas a luta que se deu e o final são lindos demais.

 
Às 24 de abril de 2019 às 10:29 , Blogger Aline M. Oliveira disse...

Olá! Adorei a resenha. Eu gosto muito de livros que retratam essa época, me interesso desde criança. Acho que além da carga emocional da história, tem o lado de retratar o que aconteceu naquela época, e que não pode de jeito nenhum ser esquecido. Esse parece ser um daqueles que gostarei e guardarei a história com carinho na memória. Curiosa para ver esses fantoches na minha mente. Obrigada pela dica!

Bjoxx ~ Aline ~ www.stalker-literaria.com ♥

 
Às 25 de abril de 2019 às 12:54 , Blogger Book Obsession disse...

Olá!
Assim que bati o olho na capa já deu pra sacar que seria uma leitura envolvendo os tempos de guerra. Achei a proposta muito interessante e apesar de ter alguns dramas, a autora conseguiu inserir um romance e um pouco de arte.
Parece ser uma leitura extremamente envolvente.

Camila de Moraes

 
Às 27 de abril de 2019 às 13:52 , Blogger Driely Meira disse...

Oiee Mi ^^
Eu já tinha visto a capa desse livro antes, mas acho que nunca parei para ler sua sinopse ou alguma resenha a respeito, pois a premissa me pareceu novidade. Eu gosto bastante de livros assim, que trazem uma carga emocional bem grande e que se inspiram em determinados acontecimentos da história humana, apesar de me deixarem bem para baixo e angustiada. Parece ser um livro muito bom!
MilkMilks ♥

 

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